As principais diferenças entre estrangeirismo e neologismo

São dois processos linguísticos que ajudam a renovar e enriquecer o vocabulário da língua portuguesa.

A língua está em constante transformação, acompanhando as mudanças sociais, culturais e tecnológicas da humanidade. Nesse cenário, é comum surgirem novas palavras ou adaptações de termos estrangeiros no vocabulário de um idioma. Dois fenômenos linguísticos que refletem bem essa dinâmica são o estrangeirismo e o neologismo. Embora estejam ligados ao processo de enriquecimento lexical, eles apresentam diferenças significativas em sua origem e aplicação.

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Neste texto, nós dois, juntos, vamos explorar as principais distinções entre estrangeirismo e neologismo, destacando exemplos práticos e a influência de cada um na língua portuguesa.

Pensar Cursos

O que difere o estrangeirismo do neologismo?

O universo da linguagem falada e escrita é vasto e repleto de possibilidades, permitindo múltiplas formas de interpretação e análise. Na língua portuguesa, existe um campo específico da linguística responsável por estudar os significados das palavras: a Semântica. E é justamente sobre esse tema que vamos nos aprofundar hoje.

Ao nos depararmos com os termos “neologismo” e “estrangeirismo”, é comum associarmos ambos ao sentido das palavras — e essa associação está, de fato, correta. No entanto, apesar de estarem ligados à introdução e uso de novos vocábulos na língua, esses dois conceitos têm diferenças importantes e não devem ser confundidos. Que tal explorar um pouco mais esse assunto e compreender melhor como cada um funciona?

Diferenças entre neologismo e estrangeirismo

Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo
Teadoro, Teodora.

(Neologismo, Manuel Bandeira)

Não é coincidência que Manuel Bandeira, um dos nomes mais relevantes do Modernismo no Brasil, tenha intitulado um de seus poemas como Neologismo. Em seus versos livres e delicados, surge uma palavra nova que dificilmente passaria despercebida: teadoro e teadorar. Mesmo o leitor mais desatento certamente notaria esses termos inusitados e criativos.

O termo neologismo tem raízes no grego antigo: neo significa “novo”; logos está relacionado à “palavra” ou “discurso”; e o sufixo -ismo é usado para formar substantivos. Assim, podemos entender neologismo como o processo de formação de palavras novas na língua. Isso ocorre sempre que os falantes sentem a necessidade de ampliar o vocabulário, seja criando novas palavras, seja atribuindo sentidos inéditos a vocábulos já existentes. Esse fenômeno é bastante recorrente, especialmente na atualidade, em que o avanço da tecnologia constantemente exige a invenção de termos e expressões inéditas.

Já o estrangeirismo se refere ao uso de palavras, expressões ou estruturas oriundas de outros idiomas, incorporadas à língua por empréstimo. Esse tipo de influência linguística acontece de forma natural, muitas vezes por proximidade cultural ou geográfica.

As principais diferenças entre estrangeirismo e neologismo (Foto: Unsplash).
As principais diferenças entre estrangeirismo e neologismo (Foto: Unsplash).

Esses termos estrangeiros podem manter sua forma original ou passar por um processo de adaptação ao português, o que pode até disfarçar sua origem. É comum encontrá-los em áreas como a tecnologia, principalmente na informática, onde várias expressões vêm do inglês. No entanto, é importante observar que nem toda palavra originada dessa forma se encaixa, necessariamente, como estrangeirismo. Quer ver alguns exemplos?

Tuiteiro

Algumas pessoas acreditam que a palavra tuiteiro seja um exemplo de empréstimo linguístico. No entanto, essa não é exatamente a classificação mais adequada. Embora o termo tenha como base o nome da rede social Twitter — uma palavra de origem inglesa —, tuiteiro é, na realidade, um neologismo.

E por quê? Porque o termo foi adaptado ao português com a adição do sufixo -eiro, comum em palavras que designam profissões ou atividades, como em carteiro, engenheiro, pedreiro e faxineiro. Essa adaptação morfológica segue as normas do nosso idioma, o que impede que a consideremos apenas como um estrangeirismo. Assim, apesar da origem estrangeira da raiz, a construção final da palavra é típica do português.

Deletar

A trajetória da palavra deletar também é bastante interessante. Seu ponto de partida está no latim delere, que significa “apagar”. De lá, ela foi incorporada ao francês como enlever, depois ao inglês como delete e, por fim, chegou ao português. Curiosamente, dela também deriva o adjetivo indelével, usado para descrever algo que não pode ser apagado. Com o avanço da informática, o termo reapareceu em português como verbo, agora com o sufixo -ar acrescentado ao radical, formando o verbo deletar.

Esse uso é tão comum que a palavra já está registrada nos dicionários da língua portuguesa como verbo transitivo direto. Por ter sido adaptada de forma compatível com as regras gramaticais do português, deletar é considerado um neologismo, e não um simples empréstimo estrangeiro, como se pensa com frequência.

Com esses exemplos em mente, é possível perceber que neologismo e estrangeirismo são fenômenos distintos dentro da Semântica, embora estejam relacionados ao enriquecimento do vocabulário. O neologismo envolve a criação ou adaptação de palavras para o português, podendo ou não partir de outra língua.

Já o estrangeirismo consiste na incorporação direta de termos estrangeiros ao idioma, sem grandes alterações estruturais. Por isso, é importante não confundir um com o outro, pois cada um possui características próprias e modos distintos de inserção na língua.

Mycarla Oliveira, especialista em língua portuguesa, no portal Pensar Cursos, também detalha sobre “De onde vieram os sotaques brasileiros mais populares no país?”, pois, mesmo que todos falemos português aqui, as variações de pronúncia, entonação e vocabulário entre as regiões formam um verdadeiro mosaico de sotaques que encantam, intrigam e, muitas vezes, revelam a origem de cada brasileiro.

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