Acordar com dificuldade extrema de sair da cama após uma noite inteira de sono tem nome: disania. Assistir filmes que misturam terror com comédia também ganhou sua própria categoria: terrir. E a prática cada vez mais comum de contratar funcionários como pessoa jurídica? Isso se chama pejotização. Essas três palavras, junto com outras cinco candidatas, aguardam na fila para entrar oficialmente no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), documento que regulamenta como se deve escrever cada palavra no português brasileiro. A Academia Brasileira de Letras (ABL) analisa esses termos através do Observatório Lexical, primeira etapa antes da possível inclusão oficial no idioma.
Índice
- O que é o Volp e por que ele importa
- As 8 palavras candidatas ao vocabulário oficial
- Como uma palavra entra para o vocabulário oficial
- Por que novas palavras continuam surgindo
O que é o Volp e por que ele importa
O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa funciona como a constituição das palavras no Brasil. Com mais de 380.000 entradas, esse documento estabelece a grafia correta de cada termo usado no português brasileiro e tem força de lei. Diferente dos dicionários tradicionais como Houaiss ou Aurélio, que explicam significados e registram até gírias, o Volp foca exclusivamente na forma culta da língua.
A diferença entre Volp e dicionário comum
Enquanto um dicionário explica o que significa “couve-flor”, o Volp determina que o plural correto é “couves-flores” e classifica a palavra como substantivo feminino. “O Volp não introduz uma palavra no léxico nem é um censor que autoriza ou não o ingresso de um termo na língua. Quem cria é o falante. O que o VOLP faz é registrar”, explica Ricardo Cavalieri, coordenador da Comissão de Lexicografia da ABL.
As 8 palavras candidatas ao vocabulário oficial
Atualmente, oito palavras estão no Observatório Lexical da ABL, aguardando análise para possível inclusão:
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1. Disania (substantivo feminino)
Dificuldade extrema de sair da cama pela manhã, mesmo após uma noite de sono. Quem já sentiu aquela preguiça matinal avassaladora agora pode dar nome ao problema.
2. Terrir (substantivo masculino)
Gênero de filme ou obra que mistura terror e humor. Produções como “Pânico” e “Jovens Bruxas” finalmente teriam sua categoria própria.
3. Pejotização (substantivo feminino)
Prática de contratar um trabalhador como pessoa jurídica (PJ). O termo reflete as mudanças no mercado de trabalho brasileiro.
4. Tokenização (substantivo masculino)
Na área de segurança, tokenizar é substituir um dado sensível (como um número de cartão de crédito) por um código aleatório.
5. Cordonel (substantivo masculino)
Lona têxtil revestida com borracha crua, utilizada principalmente no conserto e na vulcanização de pneus.
6. Microssono (substantivo masculino)
Pequenos períodos de sono que duram poucos segundos, comuns em situações de privação de sono.
7. Reclínio (substantivo masculino)
Ato ou efeito de reclinar, especialmente em referência a assentos ajustáveis.
8. Retrofitagem (substantivo feminino)
Processo de modernização de estruturas antigas com tecnologias atuais, preservando características originais.
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Como uma palavra entra para o vocabulário oficial
A entrada de uma palavra no Volp não acontece da noite para o dia.
A ABL segue critérios rigorosos antes de oficializar qualquer termo:
Critérios para aprovação
Os principais critérios levados em conta pela comissão de lexicógrafos incluem: ocorrência em textos escritos (a palavra precisa constar em materiais como reportagens, livros, artigos acadêmicos) e presença em pelo menos três gêneros textuais distintos. Isso garante que o termo não está restrito a um grupo específico.
O que não entra no Volp
Um termo que é só “modinha do momento” não pode entrar no VOLP — é preciso haver estabilidade e continuidade de uso. Lembra da palavra “Inshalá”, que dominou as conversas durante a novela “O Clone” em 2002? Ela nunca entrou no vocabulário oficial porque seu uso desapareceu após o fim da trama.
Por que novas palavras continuam surgindo?
“A força da língua está no uso das pessoas, não em decretos”, reforça o linguista Marcelo Módolo, da USP. A língua portuguesa funciona como um organismo vivo que se adapta às necessidades dos falantes.
Principais motores de mudança
- Avanços tecnológicos: A era digital trouxe termos como “deletar”, “streaming” e “criptomoeda” para o vocabulário cotidiano. A palavra covid-19 entrou rapidamente devido ao uso massivo global.
- Transformações sociais: Movimentos por igualdade e justiça social introduziram palavras como “sororidade” e “feminicídio” no vocabulário oficial.
- Globalização: Muitos termos estrangeiros são incorporados ao português, por empréstimo, e passam por adaptações. “Football” virou “futebol”, “delete” gerou “deletar”.
A língua está em constante transformação. Termos como “terrir” e “disania” estão ganhando força e podem logo fazer parte do vocabulário oficial. A língua portuguesa continua se renovando. Você já usa alguma dessas palavras?