A necessidade de escolher entre ir à escola ou contribuir com a renda da família tem afetado milhares de jovens brasileiros. Essa decisão, que deveria ser excepcional, tornou-se cotidiana para adolescentes e jovens adultos em diversos cantos do país.
Ao vivenciar cenários em que o trabalho é visto como única alternativa de sobrevivência, muitos acabam abandonando os estudos — o que agrava desigualdades e limita o futuro de uma geração. É neste contexto urgente que o combate à evasão escolar assume protagonismo.
Segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua 2024, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 42% dos brasileiros entre 14 e 29 anos que deixaram de estudar apontaram o trabalho como principal razão. Ou seja, quase metade dessa juventude precisou trocar a sala de aula pelo mercado de trabalho, em busca de sustento próprio ou garantia mínima para familiares.
Outras causas, como gravidez precoce no caso das meninas e o desinteresse geral, também aparecem com destaque — sempre marcadas por questões sociais, culturais e estruturais que dificultam a permanência escolar. Confira a seguir como o Pé-de-Meia tem enfrentado esta realidade.
Veja Também: 2000 Cursos GRÁTIS para você emitir seu Certificado
Pé-de-Meia: promovendo permanência escolar com incentivo financeiro
Diante do cenário preocupante, programas surgem para resgatar sonhos e reverter estatísticas negativas. Lançado em novembro de 2023, o Pé-de-Meia busca enfrentar a evasão escolar diretamente, sobretudo entre os estudantes do ensino médio público cadastrados no CadÚnico.
O objetivo central é simples: assegurar a permanência dos jovens na escola, valorizando o estudo e reduzindo desigualdades históricas que afastam milhares de brasileiros da educação básica.
O funcionamento do Pé-de-Meia é claro e objetivo. Os estudantes recebem um incentivo financeiro mensal (R$ 200) pela matrícula e frequência comprovadas no ensino regular. Para aqueles na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), há pagamentos semelhantes por matrícula e frequência.
Ao completar cada ano, outros R$ 1.000 são depositados, sendo acessíveis apenas após a conclusão do ensino médio. Com incentivos adicionais por realização do Enem, o valor pode chegar a R$ 9.200 por estudante.
Por que o trabalho ainda é a principal causa da evasão escolar?
O Brasil convive com profundas desigualdades sociais, expressas também no acesso à educação. Jovens de famílias de baixa renda são os mais pressionados a abandonar os estudos para trabalhar. Em muitos lares, a permanência escolar compete diretamente com a necessidade cotidiana do alimento, aluguel e despesas básicas.
Por consequência, o ciclo da pobreza é alimentado: menos estudo significa menores chances de acesso a empregos estáveis e bem remunerados, perpetuando a exclusão social.
Os dados mostram que, para além do fator financeiro, a escola deixou de ser atraente para muitos. O desinteresse crescente expõe falhas no engajamento escolar, falta de políticas de acolhimento e ambientes que dialoguem com a realidade do jovem.
Em especial, meninas vivem outro desafio: gravidez precoce e cobrança social elevam a taxa de abandono entre elas — fenômeno agravado pela ausência de suporte efetivo dentro e fora das escolas.
Acesse o Pensar Cursos e confira mais sobre o Pé-de-Meia.
Como funciona o Pé-de-Meia e quem pode participar?
O programa é voltado para estudantes de ensino médio da rede pública, especialmente aqueles pertencentes a famílias inscritas no CadÚnico — recorte fundamental para garantir que o incentivo chegue a quem realmente precisa. O processo é simples: a cada comprovação de matrícula e frequência, o aluno passa a ter direito ao benefício mensal.
O valor pode ser sacado a qualquer momento, exceto o montante anual (R$ 1.000 por etapa), que só é liberado após a conclusão do ensino médio, evitando o abandono escolar em etapas críticas.
Para jovens de Educação de Jovens e Adultos, o Pé-de-Meia também se apresenta como oportunidade de recuperação, estimulando o retorno de quem precisou parar de estudar para trabalhar. Para saber mais sobre regras, etapas de adesão e benefícios, acesse a apresentação oficial do Pé-de-Meia.
Veja mais sobre o programa a seguir:
Impactos do abandono escolar na vida dos jovens
Deixar a escola traz consequências permanentes. Jovens sem ensino médio concluído encontram mais dificuldades para acesso ao ensino superior, capacitação técnica e empregos com carteira assinada.
O impacto, portanto, não é restrito ao presente: ele se reflete na mobilidade social comprometida e nas limitações de futuro. Segundo a PNAD, em 2024 apenas 76,7% dos jovens de 15 a 17 anos estavam na etapa adequada ou já haviam concluído o ensino médio — índice abaixo do previsto pelo Plano Nacional de Educação.
Esse cenário não afeta apenas os estudantes, mas todo o país, que perde força de trabalho qualificada, amplia desigualdades e posterga avanços sociais. Portanto, cada jovem impedido de estudar representa também menos inovação, diversidade e força coletiva para o desenvolvimento nacional.
Pé-de-Meia: inclusão social e esperança para novas gerações
Ao garantir que a renda não seja impeditivo para conclusão dos estudos, o Pé-de-Meia não só enfrenta diretamente a principal causa da evasão escolar, mas também coloca a educação no centro da transformação social.
O incentivo financeiro regular, aliado ao acompanhamento das redes estaduais, inspira jovens a continuarem seus estudos, mesmo diante das adversidades. Além disso, estimula uma mudança cultural: estudar deixa de ser visto como luxo para ser valorizado como direito e oportunidade real.
Essa iniciativa se conecta a outros esforços de políticas públicas, demonstrando que a permanência e o sucesso escolar dependem de ações coordenadas do poder público, sociedade civil e da família. Prover condições básicas para estudo torna-se o primeiro passo para um futuro mais justo e igualitário a todos.
O Pé-de-Meia se mostra como uma política afirmativa para muitos jovens. Mas fica a pergunta: quantos talentos e sonhos ainda precisarão ser recuperados? Estar atento ao avanço desse programa e cobrar sua efetivação em todos os estados é responsabilidade de cada cidadão.