Talian – esse dialeto também é falado por brasileiros

Entenda também sua importância histórica e cultural para milhares de brasileiros.

Você sabia que existe um dialeto com raízes italianas que ainda é falado por milhares de brasileiros? O talian é uma herança linguística preservada por descendentes de imigrantes italianos que se estabeleceram no sul do Brasil a partir do final do século XIX. Mistura de diferentes variantes do vêneto, o talian resistiu ao tempo e às mudanças culturais, sendo hoje reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil.

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Mais do que um modo de falar, ele é símbolo de identidade, memória e pertencimento para muitas comunidades.

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Talian é um idiota ou dialeto?

O Talian é um dialeto marcante por sua rica bagagem cultural, representando uma das formas da língua italiana que se firmaram no Brasil, especialmente nas regiões Sul e Sudeste. Surgido a partir da migração italiana entre o fim do século XIX e o início do século XX, o Talian vai além de uma simples variação linguística: ele é um testemunho vivo da trajetória, das tradições e da identidade de um povo que encontrou no Brasil um novo lar e novas possibilidades.

A vasta diversidade cultural do Brasil foi moldada, em grande parte, pelos fluxos migratórios que ocorreram ao longo de sua história. Diversos povos chegaram ao país em busca de melhores condições de vida, muitas vezes fugindo de dificuldades econômicas e políticas em suas terras de origem. A convivência e o intercâmbio com comunidades italianas, alemãs, japonesas e muitas outras influenciaram profundamente os hábitos, os costumes e até mesmo o idioma falado pelos brasileiros.

Embora o português seja a língua oficial e largamente dominante em todo o território nacional, há algumas variantes e dialetos que coexistem com ele sem, no entanto, ameaçar sua hegemonia. Um desses casos é o do Talian, um dialeto ainda pouco conhecido do grande público, mas que, segundo dados do censo mais recente, é falado por aproximadamente 500 mil pessoas. Você já ouviu falar sobre ele?

O Talian é uma variedade regional da língua, ou seja, um dialeto que reúne traços específicos em relação à forma padrão. Ele é predominantemente falado por descendentes de imigrantes italianos no Sul do Brasil e mescla elementos das línguas italiana e portuguesa, formando uma combinação única de influências culturais e linguísticas.

A origem do Talian remonta ao século XIX, período em que os dialetos regionais eram amplamente utilizados na Itália, uma vez que o italiano ainda não havia se consolidado como língua oficial. Cada região italiana possuía sua própria forma de se expressar, e esses modos de falar foram trazidos pelos imigrantes ao se estabelecerem em solo brasileiro. A convivência de diferentes dialetos italianos dentro das colônias no Brasil resultou numa fusão linguística rica e multifacetada.

O que dizem os estudiosos?

Estudos sobre a imigração italiana mostram que, embora tenham vindo pessoas de diversas regiões da Itália, a maioria era originária do Vêneto. Com o tempo, o dialeto falado por esses imigrantes se destacou e deu origem ao que hoje conhecemos como Talian – um dialeto vêneto-brasileiro que acabou sendo compreendido por diversas comunidades linguísticas distintas.

Esse processo de preservação foi favorecido pelo isolamento geográfico de várias colônias rurais do Sul, onde o Talian seguiu sendo falado no cotidiano, aparecendo até em publicações voltadas para esse público, como programas de rádio, revistas e jornais. Já em centros urbanos maiores, como São Paulo, os imigrantes italianos tenderam a assimilar com mais rapidez o idioma e os hábitos brasileiros.

Talian – esse dialeto também é falado por brasileiros (Foto: Unsplash).
Talian – esse dialeto também é falado por brasileiros (Foto: Unsplash).

Há diferenças consideráveis entre o Talian e o dialeto vêneto ainda falado na Itália, o que justifica a criação de um nome próprio para essa variante brasileira. Apesar de ser amplamente falado em algumas comunidades — nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul —, o Talian não possui reconhecimento oficial como língua em nenhum desses locais, mesmo onde é mais utilizado do que o próprio português. Isso ocorre porque a maioria de seus falantes também domina perfeitamente a língua portuguesa, essencial para a integração social e cultural no país.

Mas o Talian não está sozinho na riqueza linguística brasileira.

Outros exemplos incluem:

  • Patuá: uma língua de base pidgin falada por descendentes de portugueses e africanos, especialmente nas áreas litorâneas, como em algumas ilhas do Maranhão. Essa língua resulta da interação entre diferentes grupos étnicos e culturais ao longo da história colonial.

  • Línguas indígenas: o Brasil é lar de uma impressionante variedade de povos indígenas, que preservam línguas como o Guarani, o Tupi, o Yanomami e o Xavante. Cada uma dessas línguas possui características próprias e desempenha papel central na construção e manutenção da identidade cultural de seus falantes.

  • Línguas de imigração: além do italiano, outras línguas trazidas por imigrantes continuam vivas em diferentes partes do país. O alemão, por exemplo, ainda é falado em cidades do Sul, como Pomerode (SC), enquanto o polonês se mantém em certas localidades de São Paulo e do Paraná.

Mycarla Oliveira, especialista em língua portuguesa, no portal Pensar Cursos, também detalha sobre “De onde vieram os sotaques brasileiros mais populares no país?”, pois, mesmo que todos falemos português aqui, as variações de pronúncia, entonação e vocabulário entre as regiões formam um verdadeiro mosaico de sotaques que encantam, intrigam e, muitas vezes, revelam a origem de cada brasileiro.

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