Hora literária – quem é Fagundes Varela, o poeta brasileiro
Ele é conhecido por sua poesia emotiva, religiosa e marcada por perdas pessoais.

Você já ouviu falar de Fagundes Varela? Considerado um dos grandes nomes da segunda geração romântica brasileira, o poeta é lembrado por sua sensibilidade, religiosidade e pelos versos marcados por dor e melancolia. Filho de uma família tradicional, Varela se destacou ainda jovem na cena literária nacional e conquistou espaço ao lado de autores como Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu. Neste encontro da Hora Literária, vamos conhecer a vida, a obra e a importância de Fagundes Varela para a poesia brasileira do século XIX.
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Quem foi Fagundes Varela, o poeta?
Fagundes Varela foi um destacado nome do romantismo brasileiro. Nascido na antiga vila de São João Marcos — atualmente Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro —, era filho de um juiz. Ainda jovem, decidiu se afastar dos valores conservadores de sua família, adotando um estilo de vida boêmio, marcado pelo gosto pela poesia e pelo consumo de álcool.
Falecido em 18 de fevereiro de 1875, Varela é considerado um dos grandes representantes da poesia romântica no Brasil. Embora seja associado à segunda geração do romantismo, seus versos também revelam influências das fases anterior e posterior do movimento. Entre seus poemas mais conhecidos está o comovente “Cântico do Calvário”.
A trajetória de um poeta romântico
Luís Nicolau Fagundes Varela nasceu em 17 de agosto de 1841, na então vila de São João Marcos — hoje parte do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. Durante a infância, permaneceu nesse cenário interiorano até os dez anos de idade, quando sua família se transferiu para Catalão, em Goiás. Essa mudança foi apenas o início de uma vida marcada pela constante mobilidade, reflexo da profissão do pai, que era juiz e era frequentemente transferido.
Essas mudanças frequentes deixaram marcas profundas no jovem Varela, moldando um espírito inquieto e errante que o acompanharia por toda a vida. Na década de 1860, ele se instalou em São Paulo, onde ingressou na Faculdade de Direito. No entanto, seu interesse pelo universo acadêmico não era maior que sua inclinação à boemia, à literatura e aos amores conturbados.
Durante esse período, começou a publicar seus primeiros poemas em jornais e a frequentar os círculos literários paulistas. Viveu romances intensos, como o que teve com a prostituta conhecida como Ritinha Sorocabana — relação que escandalizou a elite da época. Também enfrentou o alcoolismo, uma das marcas trágicas de sua trajetória. Mais tarde, apaixonou-se por Alice Guilhermina Luande, uma artista de circo, com quem se casou em 1862. Dessa união nasceu Emiliano, seu único filho, que faleceu com apenas três meses de vida. A dor da perda foi eternizada em um de seus poemas mais famosos: Cântico do Calvário.
A escolha de se casar com uma mulher de origem circense, somada ao estilo de vida desregrado, afastou-o dos padrões sociais burgueses aos quais sua família pertencia. Varela, no entanto, se mantinha fiel à sua natureza artística e livre, desafiando os valores da sociedade conservadora. Suas finanças eram instáveis, vivia cercado por dívidas e sua saúde se deteriorava com o abuso do álcool.
Em 1865, deixou Alice aos cuidados da família dela e partiu para Recife, onde tentou retomar os estudos de Direito. Nesse mesmo ano, tornou-se viúvo. A partir daí, sua vida assumiu tons ainda mais trágicos — característica recorrente nos poetas românticos. Em 1866, retornou a São Paulo, mas logo abandonou a faculdade e se mudou novamente para sua terra natal, São João Marcos. Ali, casou-se com sua prima Maria Belisária de Brito Lambert, com quem teve duas filhas.
Fagundes Varela faleceu em Niterói, em 18 de fevereiro de 1875, aos 33 anos. Apesar da vida breve e turbulenta, deixou um legado literário expressivo e permanece como um dos grandes nomes do romantismo brasileiro.
Estilo e características literárias
Vinculado à segunda geração do romantismo brasileiro, Fagundes Varela se destacou por uma poesia marcada pelo sentimentalismo profundo, pelo sofrimento existencial e pelo fascínio pela morte. Seus versos refletem um eu lírico introspectivo, atormentado e melancólico, revelando as principais marcas desse período:
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Evasão da realidade: fuga para o imaginário, o sonho e a idealização;
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Culto à morte: a morte aparece como libertação e tema constante;
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Pessimismo: visão sombria da existência;
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Individualismo: foco nos sentimentos e angústias do eu poético;
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Exagero sentimental: emoções intensas e dramatizadas;
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Idealização amorosa: mulheres retratadas como perfeitas e inatingíveis.
Mas sua obra não se limita a essas características. Em diversos momentos, Varela ultrapassa os limites da segunda geração e dialoga com outras fases do romantismo. É possível identificar em seus poemas elementos:
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Da terceira geração:
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Menor idealização romântica;
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Crítica social e questionamentos políticos.
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Da primeira geração:
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Temática religiosa;
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Nacionalismo e valorização do ambiente natural (bucolismo).
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Principais obras de Fagundes Varela
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Noturnas (1861)
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O Estandarte Auriverde (1863)
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Vozes da América (1864)
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Cantos e Fantasias (1865)
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Cantos Meridionais (1869)
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Cantos do Ermo e da Cidade (1869)
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Anchieta ou O Evangelho nas Selvas (1875)
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Cantos Religiosos (1878, póstumo)
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Diário de Lázaro (1880, póstumo)
Mycarla Oliveira, especialista em língua portuguesa, no portal Pensar Cursos, também detalha sobre “De onde vieram os sotaques brasileiros mais populares no país?”, pois, mesmo que todos falemos português aqui, as variações de pronúncia, entonação e vocabulário entre as regiões formam um verdadeiro mosaico de sotaques que encantam, intrigam e, muitas vezes, revelam a origem de cada brasileiro.