Em 2018, o Brasil ocupava a incômoda terceira posição entre os piores salários mínimos do mundo, com apenas €1,67 (R$7,34) por hora trabalhada, ficando atrás somente de Rússia e Moldávia.
Esse cenário contrasta com a recente declaração da ministra do Planejamento, Simone Tebet, que anunciou a previsão do salário mínimo em 2026, valor que, segundo ela, representa o maior dos últimos 50 anos em termos reais.
A posição do Brasil no ranking mundial
De acordo com dados divulgados em 2019, o salário mínimo brasileiro posicionava o país entre os três piores do mundo em uma análise de 37 países. O valor de €1,67 (R$7,34) por hora trabalhada era inferior ao de nações como Argentina (€4,16) e Ucrânia (€3,03), ambas com economias consideradas menos desenvolvidas que a brasileira. Atualmente no Brasil esse valor está em R$ 9,48, considerando uma carga horária de 40 horas semanais.
Para efeito de comparação, a Austrália liderava o ranking com €9,47 por hora (equivalente a R$41,60), representando um valor quase seis vezes maior que o brasileiro. Essa disparidade revelava não apenas diferenças econômicas, mas também questões estruturais profundas relacionadas à produtividade e desenvolvimento.
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O contexto global dos salários mínimos
Moldávia: O menor salário do mundo
A Moldávia detinha o pior salário mínimo do mundo em 2018, com apenas €1,65 por hora. O país, considerado o mais pobre da Europa, enfrenta desafios históricos decorrentes da herança soviética. Após o fim da URSS, as terras agrícolas foram divididas em pequenos lotes de aproximadamente 2,5 hectares, criando uma dependência do trabalho manual e limitando o desenvolvimento tecnológico.
Rússia: Entre os piores apesar do tamanho
A Rússia ocupava a segunda posição, com €1,64 por hora. Interessantemente, o país havia aumentado o salário mínimo em 43% antes das eleições presidenciais de 2018, elevando-o ao nível mínimo de subsistência. Antes dessa medida, os salários reais dos consumidores russos haviam diminuído por quatro anos consecutivos até 2017.
Análise econômica da situação brasileira
Daniel Duque, mestre em Economia pela UFRJ e pesquisador do Instituto Mercado Popular, analisou que a posição do Brasil refletia questões estruturais profundas. Segundo ele, o baixo salário mínimo era resultado direto da baixa produtividade nacional e do grau de desenvolvimento econômico, mais do que uma simples escolha política.
Fatores que influenciam o salário mínimo brasileiro:
- Baixa produtividade: A economia brasileira apresenta níveis de produtividade inferiores aos países desenvolvidos
- Peso previdenciário: Aproximadamente 60% dos beneficiários da previdência recebem um salário mínimo
- Impacto fiscal: Cada real de aumento representa R$ 420 milhões em despesas públicas
- Estrutura econômica: Concentração em setores de menor valor agregado
Perspectivas para 2026
A projeção de R$ 1.630 para 2026 representa uma mudança no cenário brasileiro. Segundo o anúncio da ministra Simone Tebet, esse valor marcaria o maior salário mínimo em termos reais dos últimos 50 anos.
Impactos da nova política salarial
O aumento projetado terá reflexos diretos em:
- Aposentadorias e pensões vinculadas ao salário mínimo
- Benefícios sociais como o seguro-desemprego
- Poder de compra da população mais vulnerável
- Custos empresariais e competitividade
Debates sobre os efeitos do salário mínimo
Argumentos favoráveis
Estudos da Scholars Strategy Network e da Universidade da Califórnia em Berkeley apontam benefícios do aumento do salário mínimo:
- Redução da pobreza: Um aumento de 10% pode reduzir as taxas de pobreza em 0,7 a 0,9% nas áreas mais afetadas
- Estímulo econômico: Trabalhadores com maiores rendimentos tendem a gastar mais, aquecendo a economia
- Melhoria na saúde: Acesso a melhores produtos e serviços de saúde
- Bem-estar social: Correlação positiva entre salários mínimos mais altos e qualidade de vida
Argumentos contrários
Economistas do livre mercado, como Roberto Ellery da UnB, alertam para possíveis riscos:
- Desemprego estrutural: Salários muito altos podem expulsar trabalhadores menos qualificados do mercado
- Pressão inflacionária: Aumento de custos pode ser repassado aos preços
- Competitividade: Empresas podem perder capacidade de competir globalmente
- Informalidade: Incentivo ao crescimento do mercado informal
A evolução do salário mínimo brasileiro de uma das piores posições globais em 2018 para a projeção de R$ 1.630 em 2026 representa uma trajetória de recuperação econômica e valorização do trabalho.
Contudo, os desafios estruturais permanecem: como equilibrar a necessidade de garantir dignidade aos trabalhadores com a sustentabilidade econômica e a competitividade empresarial? Será que o Brasil conseguirá sair definitivamente das últimas posições no ranking mundial de salários mínimos?
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